domingo, 4 de janeiro de 2015

04/01/15 - Domingo - 10º dia

Buenas, pessoal!
Sob cerração saímos hoje pela manhã do Camping das Pedras, em Marques de Souza, para cumprirmos o último dia da nossa jornada ciclística rumo ao Salto do Yucumã, no município de Derrubadas, divisa com a Argentina.
Mas a trégua do sol foi curta. Poucos quilômetros adiante apareceu com força e vigor, e se transformou no fator determinante do ritmo que impusemos à pedalada. Enquanto o protetor solar deu conta do recado, pedalamos. Todavia, com a temperatura subindo rapidamente, e o calor que emanava no próprio asfalto, já em Lajeado (30 km à frente) fizemos uma parada estratégica, à sombra de árvores bem copadas, para darmos um refresco ao lombo ardido.


Logo depois, cruzamos a ponte sobre o Rio Taquari, que traduzia o tempo dos últimos dias: águas barrentas em função de tanta chuva. Parecia chocolate derretido.



E mesmo sob o sol do meio-dia, aproveitávamos cada descida para embalarmos as bicicletas e nos aproximarmos do ponto de parada para o almoço: o Restaurante Rosinha, em Fazenda Vila Nova. Se a foto abaixo for ampliada (basta clicar em cima dela e optar vela visualização em tamanho grande), aparecerão o Paulo Augusto e o Luiz Eduardo muitos metros à minha frente, e eu a 42 km/h tentando alcançá-los. 30 anos a menos fazem diferença... 


Chegamos no tal restaurante às 12h30min, almoçamos, encontramos uma bela sombra nos fundos do posto de combustível, e só retomamos a pedalada às 15h30min, depois de uma sesta providencial deitados sobre o gramado que havia debaixo das árvores. O calor realmente desanimou-nos a voltar à estrada antes desse horário.
Vencendo lentamente o trecho, subindo as coxilhas de um lado para descê-las do outro, fomos encurtando os 95 km que tínhamos que percorrer para finalmente chegarmos às portas de Montenegro.
Para amenizar o calor insuportável, valia de tudo: na parada reproduzida na foto abaixo o recurso foi uma fatia de melancia gelada. Já estávamos em Tabaí, e a profusão de tendas vendendo produtos coloniais e frutas da estação veio em nosso favor.


Mais adiante, a primeira placa indicativa do nosso destino: Montenegro!


Ingressamos na RS-287, em Coxilha Velha, dispostos a vencer, em 1 hora os 18 km que nos separavam de casa.
Mas... quem podia imaginar que furaria a câmara traseira da minha bicicleta? Senti o pneu murchando devagarzinho, a bicicleta ficando cada vez mais pesada, avisei aos guris dos problema e passei a torcer que conseguisse chegar rodando até o posto de combustível existente no Bairro Cinco de Maio, a exatos 2 km de casa. Cheguei! De arrasto, mas cheguei. Com ânimo ainda para fotografar nosso cartão de visita mais conhecido, o Morro São João. É bonito de qualquer ângulo!


Enquanto calibrava o pneu, o Paulo Augusto se parou do meu lado e a câmara traseira da sua bicicleta também estava furada! Que coisa! Resolvemos que perderíamos muito tempo para consertar as duas bicicletas estando apenas a 2 km de casa e fomos empurrando as magrelas lomba acima no Bairro Cinco de Maio.
É como sempre dizem, "só termina quando acaba". Jamais poderíamos prever que tão próximos do final da nossa cicloviagem teríamos esse problema. E que chegaríamos empurrando duas das três bicicletas por conta de câmaras furadas.
Mas, enfim, estamos em casa. Queimados do sol, cansados, com todo o desmonte para ser providenciado, mas detentores de mais uma experiência de inestimável valor, que foi essa percorrida de 846 km rumo ao Salto do Yucumã.

Que venham as próximas aventuras, os novos destinos. Que surjam novos adeptos das cicloviagens e do cicloturismo. Que possamos transformar nosso Estado num celeiro de cicloviajantes, e que a acolhida a todos os turistas - que nos é tão peculiar - se estenda àqueles que chegam em nossas cidades montados sobre suas bicicletas, esse jeito barato, ecologicamente correto, silencioso, divertido, democrático e desafiador de conhecermos o mundo ao nosso redor.

Obrigado a todos que nos deram o prazer da sua companhia como caroneiros virtuais da cicloviagem narrada neste blog. Foi um prazer compartilhar desses momentos com vocês.

Um grande, um enorme, um... Bait'abraço!

03/01/15 - sábado - 9º dia

Buenas, pessoal!
A noite em Tio Hugo, no Hotel "Sou do Sul", foi das melhores! Como o quarto estava voltado para os fundos, ou seja, o trânsito da BR-386 não nos importunava, pudemos dormir com a janela aberta sem ouvirmos barulho algum vindo da rua. Quando terminei de redigir a postagem do blog do dia 02/01 e retornei ao quarto, os guris dormiam profundamente. Exaustos.
Hoje de manhã, bem em frente ao hotel, vimos o primeiro acidente de trânsito. O motorista da carreta que aparece na foto dormiu na direção, e acabou saindo da estrada. Fazia apenas 1 hora que tinha acontecido. Acordou na marra, a criatura.


E para quem curte muito as belezas dessas percorridas, como eu, qualquer parada na beira da estrada é motivo para um olhar perdigueiro. Encontrar flores entre as capoeiras é ver a obra de Deus nos lugares mais simples e despretensiosos.


Falando em Deus, me lembrei de comentar: em todos os dias, ao ingressarmos na estrada, fazemos o sinal da cruz, rezamos um Pai-Nosso e uma Ave-Maria e pedimos bênçãos e proteção na nossa jornada. Certamente Eles estão olhando por nós...

Já na reta final da nossa pedalada, com a foto abaixo quero deixar registrado a profunda admiração que tenho pela amizade que une esses dois guris, o Paulo Augusto e o Luiz Eduardo. Primos-irmãos nascidos com apenas 23 dias de diferença, embora fisicamente totalmente diferentes, nutrem uma amizade recíproca invejável. Brigam como quaisquer amigos, mas em instantes já estão zoando entre si, e foram a companhia um do outro nesses dias de jornada ciclística. É realmente admirável a cumplicidade e a confiança recíproca. Cartada certeira a minha de convidar o Luiz Eduardo para pedalar conosco - modéstia à parte.


No caminho entre Tio Hugo e Marques de Souza (nossa parada de hoje), antes de iniciarmos a forte descida em Pouso Novo, encontramos um colecionador de automóveis antigos. Ah, não resisti à tentação de fotografar um VW 4 portas 1969, um Maverick 6 canecos e um Dodge Dart!




A descida da serra de Pouso Novo foi veloz e emocionante. Conseguimos acompanhar sem problemas o fluxo dos veículos, despencando lomba abaixo a 60 km/h. Quando, no último trecho, soltamos os freios totalmente, minha bicicleta chegou rapidamente a 67 km/h. Se tivesse liberado a descida desde o cimo do cerro, certamente teríamos atingido 80 km/h. Mas a cautela adotada na primeira parte da descida permitiu adequado controle das bicicletas.
E após uma longa pedalada de 100 km, em um dia de calor intenso, resolvemos abrir mão de percorrer mais 30 km até Lajeado e acabamos ficando em Marques de Souza novamente.


Oportunidade para finalmente montarmos o primeiro acampamento da viagem, já que o programa foi totalmente alterado por conta da chuva intensa que caiu desde nossa largada, no dia 26/12. O lugar escolhido foi novamente o Camping das Pedras, mas desta vez o banho de rio foi restringido: tanta água descendo dos morros elevou o nível do Rio Fão, e os guris tiveram que se contentar em banhar-se bem próximos à margem. Agora, que o lugar é digno de ser conhecido, por quem gosta de natureza, sossego, sombra, água de vertente e silêncio, ah, disso não tenho a menor dúvida.


Fui conferir, no velocímetro da bicicleta do Luiz Eduardo, a distância percorrida até hoje: já são 751 km desde a largada no dia 26/12. Que alegria até agora estar dando tudo certo, todos bem fisicamente, as bicicletas sem maiores problemas, realmente será uma viagem inesquecível. Só está faltando a companhia do César, nosso velocista subidor de lombas, que deu um laço em nós em termos de preparo físico, e que foi, nos cinco dias em que esteve conosco, o melhor dos parceiros de jornada.
Bait'abraço!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

02/01/15 - 6ª-feira - 8º dia

Buenas, pessoal!
Há mais de uma semana na estrada, nessa viagem muito legal de bicicleta ao Salto do Yucumã, temos curtido com muita intensidade cada um dos momentos compartilhados. Seja quando vemos uma paisagem bonita, quando conhecemos alguém interessante, quando comemos alguma iguaria típica dos locais por onde transitamos, quando precisamos resolver problemas juntos, a la Três Mosqueteiros (um por todos; todos por um!) - lembrando que até anteontem éramos Quatro Mosqueteiros, pois o César Seghetto estava junto -, tudo sempre tem sido motivo de aprendizado, de troca de experiências, é fantástico isso.
Bom. O nosso dia:
Mais uma vez nos despedimos com sentimentos de gratidão ao César, à Luciane e à Fabíola pela acolhida que tivemos em Sarandi. Todos gente boa demais!
Adivinhem? Chovia na partida. Aliás, choveu até as proximidades de Carazinho. Me disseram que a chuva acumulada nesses dois primeiros dias de janeiro já é mais da metade da previsão para o mês. Que tal...
Por sorte, quando furou a câmara do pneu dianteiro da bicicleta do Paulo Augusto, em Carazinho, havia estiado, e pudemos fazer o conserto sem maiores problemas - aproveitando, claro, uma poça d'água à beira da rodovia para descobrirmos o local do furo.


Almoçamos novamente no Posto RHRiss (mesmo local da nossa parada na ida), e, na sala dos motoristas, tiramos aquela soneca depois do meio-dia. Sentados nas poltronas, sujos, molhados e fedorentos...
Às 14h retomamos a pedalada, e o céu com algumas nesgas de sol e a mudança do vento (que passou a soprar de oeste para leste) prenunciou que o tempo firmaria. Finalmente! Depois de dias de chuva, vento, frio, enfim um dia com cara de verão gaúcho: sol e calor. Ufa!
Mas os rios, arroios, sangas, transbordaram. Passamos num em que o curso d'água virou uma corredeira, marrom e barulhenta.


Claro que os dois guris não puderam admirar a vista de cima da ponte... tiveram que descer e molhar os pés na água.


Eu, de butuca em cima da ponte, monitorando os dois, também posei para um close. Apesar da água muito barrenta, o riozinho estava com personalidade hoje.


E uma foto peculiar: quantas vezes já nesta viagem encarreiramos as bicicletas para um descanso, um gole d'água, uma urinada... Mais bonito ainda ficava quando a bicicleta do César integrava o pelotão. Sem dúvida, temos chamado a atenção na estrada. Todos os dias são dezenas de buzinadas e saudações dos motoristas, e não fomos hostilizados em nenhum momento desde a partida. Claro que estamos fazendo nossa parte, andando sempre que possível no acostamento, em dias de chuva com o sinalizador acionado, sempre em fila, minimizando os riscos que a estrada ao natural já impõe a quem por ela trafega. 


Após 80 km percorridos, chegamos em Tio Hugo, cidadezinha de 5.000 habitantes a 30 km de Soledade. Resolvemos pernoitar por aqui mesmo, no Hotel que tem o simpático nome de "Sou do Sul". Fomos muito bem acolhidos pelos atendentes, e já consegui emprestada a máquina de lavar roupa e a secadora para botarmos em dia nossos trapos, úmidos por tanta chuva. Com a possibilidade do tempo firmar definitivamente a partir de amanhã, é provável que cheguemos em Montenegro, no próximo domingo, com alguma roupa seca nos alforjes. Porque a situação estava ficando complicada.


E vejam que belíssimo pôr-do-sol no altiplano riograndense!


E, da outra janela do Hotel, uma belíssima lua concorrendo com o sol poente para pintar o céu com matizes de outra cor. Somos uns privilegiados.


Amanhã, nossa intenção é chegarmos em Marques de Souza; se possível, até em Lajeado. Para que, no domingo dia 04, após 10 dias, retornemos dessa viagem fascinante pelos pagos gaúchos em busca das belezas do Salto do Yucumã (ou do "Salto del Yucuna", como dizem do lado de lá do Rio Uruguai nossos irmãos argentinos).
Bait'abraço!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

01/01/15 - 5ª-feira - 7º dia

Buenas, pessoal!
Ontem à noite, num hotel de posto de combustível, à beira da BR-386, em Seberi, a chegada de 2015 também teve comemoração, comes e bebes! Chegados na cidade à tardinha, quando muitos supermercados já estavam fechados, tivemos que improvisar no banquete da virada! Essa é a foto da mesa farta que o Paulo Augusto, o Luiz Eduardo e eu montamos no quarto. 


E estava bom!

O problema foi a chuva que caiu ininterruptamente desde ontem à tardinha. Quando nos levantamos hoje de manhã, desci até o posto de combustível para ver como estava o tempo e me assustei com a cerração, com a chuva guasqueada pelo vento e com o frio inesperado que fazia em Seberi. Demoramos para nos animar a iniciar a pedalada rumo a Sarandi. Às 08h30min finalmente giramos o pedivela das bicicletas.
Que frio! Quase duas horas depois a temperatura estava em 17ºC, a chuva inclemente molhando-nos totalmente, encharcando os alforjes e seu conteúdo, deslubrificando as bicicletas, nos judiando morro acima pelo esforço e morro abaixo pelo enregelamento.
Nessas condições, o primeiro a acusar o pealo foi o Paulo Augusto: em determinado momento, parou na rodovia e sua boca estava roxa de frio, os dedos das mãos amortecidos, e tremia todo! Rapidamente o vestimos com outra camiseta de algodão, por baixo da roupa já molhada, para estabilizar a temperatura corporal, fizemo-lo ingerir glicose, e deixamos que ele disparasse na frente para reaquecer-se. Foi um santo remédio! Quando nos reagrupamos para o almoço, o piá já estava fazendo suas piadas infames, dançando e cantando, como sempre faz em cada parada.
Aí trocamos a roupa molhada por roupa seca, e fomos almoçar.
E coragem para recolocar a vestimenta molhada e retomar a pedalada! Eu só ouvia, de longe, os gritos dos dois guris, para espantar o frio da arrancada.
Foi tanta chuva que dezenas de cachoeiras se formaram na beira da estrada. Como esta região tem o relevo bastante acidentado, era evidente que esse mundo d'água desceria as encostas. 


Aí quem se queixou foi o Luiz Eduardo. Dor nos joelhos. Também, pudera, 60 km percorridos só de manhã, nessas condições, judiaram não só do equipamento, mas também de quem conduzia as bicicletas. O ritmo ficou mais sereno e lentamente fomos aliviando as dores.
Somente à meia tarde a chuva deu uma trégua e os vales apareceram novamente diante de nossos olhos. Já disse mas não canso de repetir: é uma região belíssima do nosso Estado! E produzem muito vinho por aqui, há vinícolas, cantinas e tendas de produtos coloniais em todo o trecho. Vale a pena conhecer!


E vá pedal!


Finalmente às 17h, ensopados, exaustos, com as bicicletas ringindo, os alforjes encharcados (não há capa que resista a chuva dessa intensidade) chegamos em Sarandi, após 80 km percorridos.
O César Seghetto, a Luciane e a Fabíola já nos esperavam com o mate pronto, e outra vez ficamos constrangidos por tanta generosidade na acolhida.
Feriado, padarias e supermercados fechados, o jeito foi procurarmos uma cantina à beira da estrada e montarmos nosso café/janta com pão caseiro, copa, queijo, suco de vinho. Tudo fatiado e aquecido na chapa do fogão, foi uma lauta refeição. Restauradora, eu diria.

Já percorremos cerca de 580 km desde nossa saída, e, afora o furo na câmara do pneu da bicicleta do César, nenhuma delas apresentou qualquer problema mais sério, que não um ou outro parafuso solto, os espelhos frouxos, a deslubrificação do sistema de transmissão e marchas por conta da chuva. Prova do acerto na revisão das bicicletas e da qualidade dos equipamentos. Estou muito satisfeito!
Amanhã, o destino será a cidade de Mormaço, a 80 km daqui de Sarandi. Com previsão de muita chuva novamente. Já não estranhamos mais. Se não chover, algo está errado... hehehe...

Ah, encontrei a foto da Prefeitura de Sarandi ornamentada para o Natal. Fotografei o prédio quando por aqui passamos, na ida da viagem, mas o registro ficou na memória interna na máquina, só hoje a localizei. Olhem que espetáculo!


Bait'abraço!

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

31/12/14 - 4ª-feira - 6º dia

Buenas, pessoal!
Era grande nossa expectativa, do César, do Paulo Augusto, do Luiz Eduardo e minha, acerca da nossa decisão de ingressar no Parque Estadual do Turvo independentemente das condições climáticas.
De fato, mesmo com o tempo fechado e uma pequena garoa caindo, às 08h o taxista, "Seu" Botega, nos apanhou em frente ao Hotel Aracê, em Tenente Portela, e rumamos outra vez em direção ao Salto do Yucumã.
A entrada no Parque custa R$ 13,50 por carro, independentemente do número de ocupantes. Pagamos e finalmente acessamos a estrada de chão batido que leva, por 14km atravessando uma mata fechada e completamente intocada, ao Rio Uruguai, na divisa com a Argentina.




Diversos animais foram avistados! Gato do mato, pacas, saracuras, pombos do mato, um coati ou alguma espécie de macaco (estava longe, não conseguimos distinguir o que era), todos cruzaram a estrada estreita na frente no carro, ariscos e ligeiros. Até tentamos fotografá-los, mas é muito difícil acertar com o automóvel em movimento.
À beira do imponente Rio Uruguai, as primeiras placas indicativas da fenda, e do perigo que ela representa aos desavisados que nela caem. Ouvimos, dos guardas florestais, o relato de diversos casos de pessoas que se afogaram, tragadas pelas ondas da fenda, e de outras que faziam do Salto seu trampolim para exibirem seu talento como nadadores.


Um pouco mais adiante, finalmente a trilha para o Salto!


O barulho que o rio faz batendo contra as rochas do Yucumã é assustador! A grande distância ouvíamos o "ronco" das corredeiras. Quanto mais nos aproximávamos, mais água vertia das encostas e, a metros do rio, uma verdadeira corredeira também se formara na trilha de acesso.


O Salto do Yucumã!
Submerso pela água que descia das comportas abertas na represa em Santa Catarina, mas com parte da extensa queda d'água ainda visível, apesar de com pouco mais de 01 metro de altura - em dias apropriados, se revela em todo o seu esplendor com quedas de até 15 m de altura!






É óbvio que fotografias jamais representarão toda a imponência do Salto do Yucumã - mesmo submerso, como hoje... É preciso estar lá, na beira do Rio Uruguai, ouvindo seu ronco enquanto cruza a fenda estreita e profunda e vendo a dança das águas despencando rocha abaixo, provocando uma cena inusitada, do rio literalmente descendo um degrau com 1,8 km de extensão, para seguir seu feroz curso d'água um metro mais baixo!
Prodígios de um fenômeno que se perpetua através dos tempos, e que gera aquela paisagem sem igual!

Claro que não escondemos a nossa frustração por termos vindo numa semana com tanta chuva, que elevou o nível do rio, que motivou a abertura das comportas da represa, que não nos permitiu chegar pedalando às suas margens.
De qualquer sorte, esses contratempos só nos motivaram ainda mais a voltarmos em outra oportunidade, para vermos o que hoje infelizmente não pudemos ver.

De volta ao Hotel, o César despediu-se de nós, desmontou sua bagagem, e retornou de carro para Sarandi. Reiniciará suas atividades profissionais como Oficial de Justiça a partir de amanhã e, com isso, teve que antecipar o final da pedalada.
Mas foi a melhor das companhias nesses cinco dias de percorrida! Sempre solícito, bem-humorado, companheiro, responsável, solidificou nossa amizade e ganhou novos admiradores, como o Luiz Eduardo e o Paulo Augusto, que não cansaram de elogiar a parceria. Valeu, Seghetto!
Aos que permaneceram envolvidos com o desafio, restou remontar a bagagem nas bicicletas e retomar a pedalada, agora rumo a Montenegro, rumo à casa.


Saímos de Tenente Portela às 13h, depois de almoçarmos num restaurante à beira da estrada, e vencemos os 60 km que nos separavam de Seberi, onde já estamos alojados. Num hotel, claro, porque a chuva que caiu ao final da tarde na região - que "novidade"! - por pouco não nos encharca totalmente!
No caminho, passamos pela simpática cidade de Palmitinho, onde registramos a beleza da igreja que recepciona os viajantes que, provindos do noroeste, acessam a comunidade, após vencerem uma subida danada de quase 7 km.


Em Seberi, o registro fotográfico do temporal que desabou sobre a cidade. É um assombro o que tem chovido nos últimos dias. Festa de reveillon hoje, só dentro de casa...


Claro que não esquecemos da chegada do ano novo! Compramos frutas, doces, um espumante, e vamos comemorar a três - talvez até a mais, se convidarmos os frentistas do posto de combustível 24h que há junto ao hotel - a passagem de 2014 e a entrada de 2015! E com o pensamento para nossas famílias que estão lá em Montenegro, esperando por nosso retorno.
A todos, Feliz Ano Novo!
Bait'abraço!

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

30/12/14 - 3ª-feira - 5º dia

Buenas, pessoal!
Já estamos às portas do Salto do Yucumã, maior queda d'água longitudinal do mundo, onde o Rio Uruguai, com toda sua imensidão, numa extensão de 1,8km leva um "tombo" de 15m de altura, mergulhando numa fenda de 30m de largura por 130m de profundidade, obra de arte da natureza, única em sua magnitude!
Desde Soledade temos visto fotos e paineis do Salto ornamentando bares, restaurantes, hoteis. E a cada nova fotografia nossa empolgação aumenta diante da expectativa de conhecermos esse local exuberante.
Com esse pensamento a nos mobilizar, acordamos hoje de manhã em Redentora, pretendendo pedalar ou até Tenente Portela ou até Derrubadas, dependendo das condições climáticas.
Mas já saímos do hotel com os alforjes encapados. Em todas as direções, na vastidão destes campos sem fim, o horizonte estava carregado de nuvens negras. Em muitos lugares a chuva coloria o céu de cinza, e tínhamos certeza de que não escaparíamos do banho...
Subindo e descendo coxilhas, sob a companhia de soja e quero-queros, numa estrada pouco movimentada, fomos vencendo os 40 km que nos separavam de Tenente Portela, local combinado para o almoço.


Paramos às 11h num posto de combustível na entrada da cidade, e aí a chuva veio. Com muita força. Em certos momentos relampejava e trovejava, o céu escurecia, e a precipitação se intensificava. Que remédio! Preparamos o mate, nos abancamos à entrada do restaurante, e, sorvendo um amargo, relembrando os tantos momentos pitorescos da viagem, aguardamos o almoço ficar pronto.
Não há camping em Tenente Portela, somente em Derrubadas-RS, 25 km mais à frente. Levando em conta que, com essa chuvarada que caiu, seria impossível montarmos as barracas, resolvemos outra vez mudar os planos e procurar um hotel na cidade. Nos alojamos no (bom) hotel Aracê, descobrimos um taxista que se propôs a nos levar mesmo com esse tempo até o Parque Estadual do Turvo, compramos capas de chuva e nos tocamos para Derrubadas.


E vá chuva!
Nessas condições mesmo, chegamos ao Parque - que nos recepciona com um pórtico enorme mas muito mal conservado: falta todo um lado da ornamentação.


Enfim, o portão principal!


Aí, outra surpresa: a única informação que tínhamos sobre o ingresso no Parque era de que nos dias 25/12 e 01/01 estaria fechado para visitação, por conta dos feriados nacionais.
Mas que ele não abria às 2ªs e 3ªs-feiras, ah, isso foi uma senhora novidade! Autorizados pelo porteiro, conseguimos localizar um dos guardas do Parque e, de fato, não nos foi permitido o acesso à estrada de chão que nos levaria ao Salto do Yucumã.
Pelo menos pudemos ingressar no museu que há no local, onde uma exposição da fauna do Parque do Turvo está à disposição dos visitantes.

a

Mas confesso que minha decepção era tão grande que não me atraiu analisar os espécimes empalhados no local. O que eu queria ver mesmo era uma das sete onças catalogadas que circulam livremente pelo Parque, o que inclusive torna proibido o trânsito solitário a pé ou de bicicleta dos visitantes. Ou é de turma que se entra, ou dentro de veículos.
Não bastasse, já retornando à sede do município de Derrubadas, no Centro de Informações Turísticas descobrimos que uma represa que há rio acima retém ou libera a vazão do lago artificial surgido a partir da construção da barragem. Desse modo, assim como no domingo e ontem a fenda estava totalmente visível, hoje, com a abertura das comportas, o Salto foi encoberto. Após fechadas, ainda são necessárias 12 horas para que o Rio Uruguai retome sua profundidade normal e o Salto ressurja.
Pode piorar? Pode.
Somente amanhã, às 07h30min, o Centro de Informações receberá a notícia se as comportas estarão abertas ou fechadas, ou seja, se o Salto do Yucumã estará visível ou não.
Resolvemos arriscar: amanhã de manhã, com qualquer tempo (previsão de 50mm de chuva!), cruzaremos a mata da reserva florestal e chegaremos às margens do Rio Uruguai, já na divisa com a Argentina.
Foi para isso que viemos, é isso que faremos.
Até porque, contra o tempo, e contra a natureza, não podemos nos insurgir. É o que tem para hoje.
Bait'abraço!

29/12/14 - 2ª-feira - 4º dia

Buenas, pessoal!
A noite bem dormida no apartamento do César, em Sarandi, foi reparadora. Não temos como agradecer a ele, à sua esposa Luciane e à filha do casal, Fabíola, pela acolhida.
Bem dispostos, descansados, levantamos cedo, às 05h da manhã.
Mas nossa saída foi adiada porque descobrimos um furo na câmara de pneu da bicicleta do César. Desmontamos a roda, trocamos a câmara e às 07h finalmente partimos.
Muita cerração! Segundo o César, algo raro nesta região em pleno mês de dezembro. Chuva? Muita chuva?
Ainda na saída da cidade, o jornalista Rogério Machado, de Sarandi, nos reencontrou, e mais uma vez fotografou o pelotão de ciclistas malucos que estava se dirigindo ao Yucumã. 


Nem bem iniciamos a pedalada, uma placa indicativa do nosso destino nos fez parar novamente para a foto. Todos vibramos naquele momento! 


(Isso me fez lembrar que um comentário que fiz ao Luiz Eduardo ainda em Montenegro: quando nos perguntavam "estão vindo de onde?" e a resposta era "de Montenegro", não impactava. Mas, quando dizíamos que nosso destino era Derrubadas-RS, na divisa com a Argentina, o espanto era inevitável. Hoje, quando alguém nos pergunta "para onde estão indo?" e a resposta é "para o Salto", parece normal. Agora, quando dizemos que estamos vindo de Montenegro, a mais de 400 km de distância, não fecham a boca, de admirados...)

A cerração se dissipou somente às 10h30min, e daí para a frente foi sol, sol e sol. Não há árvores na beira das rodovias, as plantações de soja e milho iniciam a centímetros do asfalto, ou seja, sombra zero. O jeito foi dosar o ritmo para um desgaste suportável.
Mas esperar isso do César, do Paulo Augusto e do Luiz Eduardo foi bobagem. Um, super treinado, os outros dois pura testosterona, cansei de ficar sozinho pedalando. Sumiam no horizonte, em formação de pelotão de ganso (revezando-se na dianteira), vencendo aquelas coxilhas num ritmo muito forte. Eu, gordinho, destreinado, com a bike mais pesada, matei a saudade das minhas viagens solitárias a Brasília, a Santiago do Chile, a Colônia de Sacramento...
E, nesse sobe e desce das campinas, às 11h nos reunimos novamente na entrada de Palmeira das Missões.


Cerca de 15 km mais adiante, paramos para almoçar num posto de gasolina. Depois de devorarmos aquelas servidas de servente de pedreiro, esticamos uma das lonas do nosso material de camping debaixo de uns eucaliptos e... que sesta!
A retomada da pedalada, às 14h30min, demandou outra besuntada geral. O sol estava realmente forte.
Aí sim, cada um no seu ritmo, movido por seus pensamentos, mas todos concentrados na estrada, fomos vencendo gradativamente os 100 km que nos separavam do destino, Coronel Bicaco. Sol no poente, batemos às portas da cidade. Mais uma foto de placa.


Aí, a surpresa...
Não, olha, o Rio Grande do Sul é um mundo inteiro dentro de um Estado só. Temos indústrias de ponta e reservas indígenas. Temos petroquímica e lavouras infindáveis. Temos grandes metrópoles e cidades provincianas, parece que saídas de um filme da década de 30...
Pois assim é que chegamos em Coronel Bicaco. Não há campings, não há pousadas, não há albergues, e o único hotel da cidade... está de férias coletivas! Isso mesmo! Fechado por um mês! Até 25 de janeiro ninguém queira dormir em Bicaco porque será debaixo de uma seringueira na praça.
Foi o primeiro momento de "debate" na viagem: o que fazer? Armar as barracas à beira de uma sanga, num campo de futebol, ou seguir até Redentora, 12 km mais à frente? A sugestão do César, de seguir viagem, prevaleceu, mas eu acusei o golpe. Estava realmente decidido a parar, por conta do imenso desgaste em função dos 100 km já percorridos, no entanto "onde um vai os outros vão também". Toca pra Redentora. O César seguiu na frente para reservar os quartos num hotelzinho bem simples (o único da cidade também) enquanto os outros três seguíamos devagar, curtindo a beleza da paisagem.


E assim, às 19h30min todos estávamos novamente reunidos em Redentora, depois de vencermos um trecho praticamente só de subidas. Foi duro!
Aí, jantar num boteco em frente à praça da cidade e cama!
Percorremos hoje 115 km, e já batemos na casa dos 400 km nesse fantástico passeio de bicicleta pelo nosso Estado.
Tudo tem valido a pena: a companhia, as paisagens, o desafio sendo vencido dia a dia, o conhecimento, as cidades que vamos descobrindo, seus habitantes... bah! Tudo de bom!
Bait'abraço!